Essa foi uma das perguntas, que acredito mais me inquietou por boa parte da infância. Quando ainda menina, um dia me dei conta desta terrível descoberta: A existência da finitude. Como assim? Todo mundo um dia vai acabar? Inclusive eu? Então pra que a gente nasce? E depois disso? O que acontece? Pra onde vamos quando a vida acaba?
As perguntas que buscavam por explicações que pudessem dar sentido àquilo que parecia não ter sentido (a vida), foram infindáveis.
Lembro até hoje do quanto essas questões me angustiaram por certo período. Acredito que com o passar do tempo, essas angústias (pelo menos aparentemente), adormeceram. Mas de vez em quando, de tempos em tempos, quando a ameaça da finitude bate à porta, essas angustias reaparecem. Acredito que seja algo pertencente à condição humana. Algo inseparável da experiência de estar vivo.
Lidar com o que acaba, finda, termina, o que era e não é mais... Seja lá quais palavras possa usar pra isso é exercício inacabável a ser elaborado por toda vida. Só pode acabar o que um dia começou, floriu, frutificou, brilhou, deu sentido, enfim, teve investimento de vida. É o acontecimento quase que mágico da existência da vida, mas que um dia chega ao fim. E poder estar vivo enquanto ela acontecer é o mais importante, conquista que talvez poucos alcancem.
Por isso, essa coisa, que às vezes não encontramos nome, que me remete a nó na garganta e aperto no peito, e que na psicanálise pode ser chamada de angústia de separação, trata-se de algo inevitável na vida, faz parte da experiência humana, do viver e do estar vivo. Esse, talvez seja, o preço inevitável que pagamos ao gozar o que é bom, mas ter que se deparar com seu fim, quando ele chega.
Mas e a pergunta: O que fazemos quando alguém acaba? Não sei se encontrei a resposta, talvez nunca encontre uma exata, mas tenho descoberto que a gente pode tentar fazer algo com isso, tentar escrever um texto como esse, por exemplo, ou criar de inúmeras formas. Talvez esses sejam recursos possíveis para dar conta dessa não resposta. Ou talvez, uma resposta possível seja que, na verdade mesmo, alguém nunca acaba. Que com o tempo, esse alguém fica pra sempre vivo dentro de nós, nas lembranças, nos ensinamentos, nos trejeitos, enfim, nos detalhes. Até que um dia, nós também acabamos vivos dentro de alguém. E isso talvez seja não acabar nunca. É ser infinito dentro de vários infinitos.
Cristiane Borsatto Santiago
Psicóloga CRP 06/120765
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